Serviços na farmácia além Covid: gestão de pacientes crônicos e adesão ao tratamento

Como as farmácias podem colaborar para o acompanhamento de pacientes crônicos e adesão ao tratamento? A resposta pode estar na jornada do paciente que já existe hoje.

 

O papel das farmácias no cuidado aos pacientes tem se transformado nos últimos anos. Um dos exemplos mais importantes está na oferta de testes rápidos para Covid-19.

Segundo dados da Abrafarma, desde 2020, já foram realizados mais de 14 milhões de testes. Um serviço de alto valor social prestado pelas farmácias à população. Neste início de 2022, dados gerados pelas farmácias têm sido determinantes para que o país tenha uma visão mais abrangente e rápida sobre o crescimento de casos e taxas de pacientes positivos.

Mas os serviços de saúde prestados nas farmácias vão muito além dos testes de Covid.

Esses serviços incluem a vacinação, consultas para problemas menores, testes rápidos para mais de 30 parâmetros diferentes e o acompanhamento de pacientes com doenças crônicas, em uso de medicamentos contínuos. Este último, apresenta a maior tendência de crescimento para este ano de 2022.

Importância das doenças crônicas no Brasil

As doenças crônicas não-transmissíveis representam uma grande parte da carga de morbidade da população.

No Brasil, 1 a cada 3 brasileiros adultos afirma ter pelo menos uma doença crônica. Essa proporção aumenta conforme a faixa etária, chegando a 79% dos idosos com mais de 65 anos.

A partir dos 50 anos de idade, a prevalência de doenças crônicas aumenta consideravelmente, e acaba levando à polimedicação, que é o uso simultâneo de vários medicamentos. Nos idosos, por exemplo, 1 em cada 3 utiliza mais de 5 medicamentos contínuos. 

Para o paciente, cuidar dessas condições de saúde e realizar os tratamentos da forma correta são um grande desafio.

Não por acaso, a taxa de controle de doenças importantes, como diabetes e hipertensão, são baixas.

No caso do diabetes tipo 2, por exemplo, estudo da Sociedade Brasileira de Diabetes mostra que 75% dos pacientes controlam mal a glicemia e não atingem as metas do tratamento, estando sujeitos a complicações graves como cegueira, problemas renais, cardíacos, entre outras.

O problema da baixa adesão ao tratamento

Além disso, a adesão ao tratamento é um dos maiores desafios que temos hoje na saúde.

Existe uma verdadeira epidemia de baixa adesão aos medicamentos, gerando consequência graves aos pacientes, afetando também toda cadeia de saúde, incluindo indústrias, médicos, farmácias, operadoras de saúde e sistema público de saúde.

A Organização Mundial da Saúde estima que 50% dos pacientes têm baixa adesão ao tratamento.

Um estudo realizado com mais de 150.000 pessoas, nos Estados Unidos, mostrou que a adesão a medicamentos contínuos para glaucoma, dislipidemia, osteoporose, diabetes e hipertensão variam de 37% a 72% nos primeiros 12 meses de tratamento.

Estudos no Brasil mostram resultados semelhantes ou ainda piores para diversas condições de saúde.

Em pessoas com mais de 40 anos, usando medicamentos contínuos, a taxa de não adesão completa aos medicamentos chega a 63%. Em pessoas que precisam tomar mais de 5 medicamentos ao dia, esse número é ainda maior, chegando a 82%.

Gestão de pacientes crônicos na farmácia

Como as farmácias podem colaborar para o acompanhamento de pacientes crônicos e adesão ao tratamento?

A resposta pode estar na jornada do paciente que já existe hoje, por meio da ampliação de serviços e novos arranjos envolvendo indústria farmacêutica, operadoras de saúde, farmácias, médicos e profissionais farmacêuticos.

Estudos mostram que, em média, a população frequenta a farmácia até 20 vezes por ano, enquanto as consultas médicas costumam ocorrer de 1 a 2 vezes por ano, até mesmo para pacientes crônicos.

Essa frequência de uso, aliada à imensa capilaridade das farmácias, criam muitas oportunidades de melhor impactar a jornada desses pacientes.

Os pacientes que utilizam produtos de uso contínuo podem encontrar na farmácia não apenas seus medicamentos, mas também exames de acompanhamento, consultas com o farmacêutico para uso correto do tratamento, e obter avaliações e relatórios de acompanhamento que podem ser compartilhados com médicos.

O objetivo é tornar cada visita do paciente à farmácia um evento que vai além da retirada de medicamentos, gerando também informações rápidas, detectando desvios, abandonos e auxiliando esses pacientes a se manterem no tratamento, pelo maior tempo possível.

Para que isso se torne realidade, porém, é necessária a participação de todos os elos importantes da cadeia. 

Programas de benefícios de medicamentos (PBMs)

Um exemplo disso pode estar nos programas de benefícios de medicamentos, os PBMs.

Esses programas podem se expandir, oferecendo mais do que apenas descontos, agregando serviços clínicos a pacientes elegíveis, atuando para entregar “pacotes de tratamento” mais completos, reduzindo o abandono e estendendo o tempo que esses pacientes ficam em tratamento.

A aliança entre tecnologias de autorizadores, operações transacionais e operações da jornada clínica dos pacientes, são essenciais para o sucesso desses projetos.

O aumento na adesão aos medicamentos pode ter impacto direto na saúde desses pacientes, bem como no retorno sobre o investimento dos programas, diminuição das taxas de dropout para as indústrias e aumento nas receitas geradas para as farmácias. É um modelo em que todos ganham.

Empresas e operadoras de saúde

Outro exemplo pode estar nas empresas e operadoras de saúde. Ampliar os convênios com as empresas, indo além dos descontos, e agregando novos serviços.

A informação gerada pelo acompanhamento de pacientes pode ser determinante para a redução de sinistros e absenteísmo ao trabalho. Com o acompanhamento de pacientes na farmácia e a visão analítica dos dados dessas populações, empresas e operadoras podem agir de forma mais eficiente. 

É possível gerar novos valores para todos esses elos da cadeia, por meio da ampliação de serviços aos convênios de farmácia e saúde.

Protocolos clínicos e treinamento de farmacêuticos

Para que a gestão de pacientes crônicos e adesão ao tratamento sejam efetivos nas farmácias, é preciso que existam protocolos clínicos consistentes.

Todos os pacientes envolvidos nesses programas precisam receber o mesmo nível de cuidado à saúde, gerando informações e orientações padronizadas, com base em evidências científicas que sustentem essas práticas.

Além disso, os farmacêuticos devem receber treinamento adequado e suporte contínuo, de modo que possam seguir esses protocolos adequadamente.

Tecnologia e Data Analytics

Levar a farmácia ao seu próximo nível na saúde não é uma tarefa simples. Além de requerer novos arranjos de negócio, parcerias e processos, são necessárias novas ferramentas. A tecnologia pode ser uma aliada, trazendo consistência e confiabilidade aos atendimentos e resultados gerados.

O uso de plataformas clínicas e transacionais, integradas, dá tranquilidade aos elos da cadeia, tanto prestadores como pagadores, garantindo que todas as informações sejam geradas da forma correta/auditável e que os serviços sejam prestados com qualidade. 

Na medida em que farmácias, indústrias, operadoras, autorizadores e plataformas de serviços de saúde avançam juntas nesse propósito, o paciente, sem dúvida, será o maior beneficiado, com uma jornada mais completa, com menos fricção, e resultados mais significativos para seu bem mais precioso, que é a saúde.

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