A falta de acompanhamento farmacêutico no uso de medicamentos pode trazer complicações críticas à saúde quando interações medicamentosas indesejadas acontecem. Veja como ajudar seu paciente nesse momento.
Faz parte da rotina de uma farmácia receber clientes que decidem qual medicamento comprar sem uma conversa prévia com o farmacêutico. Afinal, se já estão decididos é porque já existe uma confiança de que serão efetivos.
Certo? Não! Todo medicamento apresenta informações próprias sobre indicação de uso, efeitos colaterais, contra indicações, posologia, eventos adversos e interações. E para que estas orientações específicas sejam acessíveis, é necessário que o farmacêutico, junto com sua equipe de atendimento, estejam atentos e atualizados sobre os produtos disponibilizados nas gôndolas da farmácia.
Os perigos da automedicação é um dos assuntos que mais gera preocupação ao pensarmos em uso racional de medicamentos, e o farmacêutico é o profissional habilitado técnica e legalmente com papel fundamental nesta conscientização diária, evitando interações medicamentosas indesejáveis.
Quanto maior o número de medicamentos utilizados por dia, maiores as chances de uma interação medicamentosa ocorrer, seja com alimentos ou com outros medicamentos.
Por exemplo, no caso dos portadores de doenças crônicas, já há uso contínuo de fármacos para o controle da descompensação. A exposição a novos produtos aumenta os riscos de interações medicamentosas.
➡️Consulte também: Gestão e adesão ao tratamento de pacientes crônicos
Mas afinal, o que é uma interação medicamentosa?
Por definição da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o termo é utilizado quando ocorre alteração dos efeitos farmacológicos entre dois ou mais medicamentos administrados concomitantemente, podendo resultar em anulação, em aumento ou diminuição na eficácia terapêutica.
Existem casos em que essa interação é benéfica e proposital, como quando se associa dois fármacos na mesma formulação. Porém, em casos diversos, os efeitos negativos das interações podem ser evitados com conhecimento clínico do profissional farmacêutico, que vai além de garantir a adesão ao tratamento, sendo de sua responsabilidade também avaliar a segurança e a efetividade dos medicamentos utilizados.
A interação medicamentosa pode ocorrer entre medicamento x medicamento, medicamento x alimento e/ou bebidas, aqui ressaltando uma atenção especial ao consumo de chás comumente utilizados pela população brasileira, além de bebidas alcoólicas.
Exemplos de interações medicamentosas de analgésicos e antitérmicos
Ibuprofeno (especialmente quando em uso contínuo): pode aumentar as concentrações plasmáticas de ciclosporina, digoxina, lítio e metotrexato podendo levar a toxicidade dos fármacos. Pode ocasionar redução do efeito de anti-hipertensivos além de diminuir a ação cardioprotetora do ácido acetilsalicílico.
Dipirona: por induzir enzimas metabolizadoras, quando co-administrado com bupropiona, ciclosporina, tacrolimus, sertralina e valproato de sódio, pode causar redução nas concentrações plasmáticas destes medicamentos. Risco de hematotoxicidade quando administrado com metotrexato, especialmente em idosos.
Ácido acetilsalicílico: pode aumentar níveis séricos de metotrexato e ácido valpróico, acarretando em toxicidade. Pode aumentar o risco de sangramento em uso concomitante com agentes antiplaquetários, trombolíticos e anticoagulantes.
Pode reduzir o efeito dos inibidores ECA mesmo em doses baixas de AAS. Pode reduzir o efeito de beta-bloqueadores e diuréticos amplamente usados no controle da hipertensão.
Paracetamol: É um dos medicamentos desta classe com menor potencial de interação medicamento x medicamento.
Pode ter a taxa de absorção reduzida ao ser ingerido com alimentos, ou seja, pode ocorrer diminuição do efeito. Pode aumentar o risco de hepatotoxicidade quando ingerido com consumo excessivo de álcool ou em uso prolongado, além do previsto em bula.
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Outros exemplos de interações importantes com medicamentos
Omeprazol: pode diminuir a eficácia do clopidogrel, resultando em maior risco de diminuir a agregação plaquetária e maior chance de infarto ou reestenose intra-stent.
Varfarina: Esse anticoagulante apresenta interação importante entre medicamento x alimento: por ser um antagonista da vitamina K, deve-se adequar a dieta ao consumo regular de alimentos como chá verde, bife de fígado, brócolis, couves e demais folhas verdes (ricos em vitamina K) não é necessária uma restrição total, mas sim uma ingestão de quantidade aproximada todos os dias para não ocorrer diminuição do efeito anticoagulante do medicamento. O nível sérico de varfarina deve ser avaliado periodicamente pelo exame INR devido a sua estreita faixa terapêutica.
Benzodiazepínicos: Uso concomitante com a ingestão de bebidas alcoólicas podem potencializar o efeito depressor do sistema nervoso central (SNC). Essa depressão em casos graves pode levar a depressão respiratória, hipotermia grave e falência cardiovascular.
Levodopa: Este antiparkinsoniano pode ter redução da sua efetividade quando o paciente tem uma dieta rica em proteína, diminuindo sua concentração plasmática.
Como posso ajudar meu paciente na farmácia?
O farmacêutico deve exercer seu papel clínico em todo o atendimento realizado na farmácia. Inicialmente, deve estar assegurado se o cliente faz uso contínuo de medicamentos para avaliar uma possível interação, e orientar com uma linguagem acessível quais os cuidados que devem ser seguidos para obter uma melhor experiência.
O profissional de saúde deve buscar ferramentas ágeis que colaborem com o acompanhamento clínico de seus pacientes. Existem softwares e aplicativos para celular acessíveis que auxiliam na pesquisa de interações medicamentosas, otimizando a avaliação.
Cabe salientar que os bancos de dados com as informações sobre o tema são alimentados conforme os eventos são registrados e documentados, com isso, deve-se fazer a atualização desses recursos de pesquisa de forma constante.
Ao identificar uma interação ou possível interação, o farmacêutico deve realizar uma orientação assertiva e preferencialmente documentada, avaliando a necessidade do uso do medicamento, se o mesmo possui prescrição médica, a dose e a posologia. Deve-se organizar os horários de administração conforme farmacocinética de cada medicamento, adequando-os à rotina do paciente.