Mais de um ano se passou desde que o primeiro caso de Covid-19 foi confirmado no Brasil, no dia 26 de fevereiro de 2020.
A partir de então, um ano sem precedentes seguiu. Atualmente o Brasil é o segundo país com maior número de mortes causadas pela Covid-19, acumulando mais de 280 mil mortes, e o segundo país do mundo com maior número de registro de casos da doença, segundo dados do Ministério da Saúde e da Johns Hopkins University, que faz o mapeamento do cenário de vários países do mundo a partir de informações disponibilizadas pelos órgãos competentes.
Estamos no pior momento desde o início da pandemia, considerado como o maior colapso sanitário e hospitalar do país, e nesse momento a preocupação em relação às novas variantes do SARS-CoV-2 e a eficácia das vacinas têm surgido.
Vamos ver o que temos descrito na literatura científica até o momento?
O que são as variantes do SARS-CoV-2 e por que elas são preocupantes?
Todos os vírus têm capacidade de sofrer mutação. O termo mutação se refere a alterações no genoma do vírus que ocorrem como resultado da mudança na sequência de aminoácidos.
As mutações podem acontecer no momento em que o vírus se replica na célula do hospedeiro.
Essas mutações podem tornar o vírus mais fraco ou, da mesma maneira, podem aumentar a sua capacidade de transmissão e a intensidade que o vírus causa a doença.
É importante ressaltar que enquanto o vírus está circulando amplamente na população, a probabilidade de mutação é maior.
Uma variante é considerada nova quando tem uma ou mais mutações que a diferenciam do vírus original ou do vírus predominante que circula entre a população em geral.
As novas variantes são preocupantes porque elas podem gerar desafios no manejo clínico da doença devido a maior transmissibilidade e virulência do vírus. Além disso, as variantes também podem afetar a eficácia das vacinas e causar a doença em indivíduos que já foram vacinados.
Segundo o último boletim de atualização epidemiológica da Organização Pan Americana de Saúde (OPAS), mais de quatrocentas mil sequências genéticas do SARS-CoV-2 foram compartilhadas em bancos de dados de acesso público.
No entanto, três variantes têm sido apontadas como preocupantes.
Quais são as principais variantes?
As mutações de particular relevância clínica são aquelas que acontecem na proteína S, que é responsável pela ligação do vírus e é alvo de anticorpos neutralizantes durante a infecção, bem como de alguns tratamentos e vacinas.
Até o momento, três variantes do SARS-CoV-2 são consideradas preocupantes: B1.1.7, B.1.351 e P.1.
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- B.1.1.7 (Reino Unido): foi identificada pela primeira vez em setembro de 2020 no Reino Unido e está relacionada com aumento da transmissibilidade em até 50% (transmissão mais eficiente e mais rápida), potencial aumento da virulência e baixa preocupação com a diminuição da eficácia das vacinas.
- B.1.351 (África do Sul): foi identificada pela primeira vez em dezembro de 2020 na África do Sul e está relacionada com aumento da transmissibilidade, ainda não existe evidência sobre o aumento da virulência, dados sugerem potencial escape imunológico após infecção natural e menor efeito na potência dos anticorpos produzidos por vacina.
- P.1 (Brasil): foi identificada pela primeira vez em janeiro de 2021 em viajantes brasileiros durante uma triagem de rotina em um aeroporto do Japão. Essa variante foi relacionada à propensão para a reinfecção de indivíduos pelo SARS-CoV-2.
As variantes descritas acima compartilham a mesma mutação N501Y, que está relacionada com maior transmissibilidade do vírus.
Uma outra mutação, a E484K, está presente nas variantes B.1351 e P.1 e está relacionada com a alteração da neutralização do vírus por alguns anticorpos (potencial escape imunológico).
Essas três variantes inicialmente foram associadas ao aumento do número de casos em seus respectivos locais de descoberta e já se encontram espalhadas por vários países.
A elevação no número de casos aumenta a demanda do sistema de saúde, o número de hospitalizações e, potencialmente, o número de mortes.
O que sabemos sobre as vacinas disponíveis?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as vacinas são projetadas para atuar na maioria dos casos contra as novas variantes do vírus, portanto as mutações não devem tornar as vacinas totalmente ineficazes.
Além disso, os cientistas seguem trabalhando e estudando para alterar a composição das vacinas, caso uma vacina seja menos eficaz contra uma ou mais variantes.
Até o momento, estudos sugerem que os anticorpos gerados pelas vacinas atualmente autorizadas e em uso em diferentes países do mundo reconhecem essas variantes.
Qual é o cenário das vacinas disponíveis no Brasil?
- Até o dia 12/03/2021, a Coronavac e a vacina da Fiocruz/Astrazeneca estavam disponíveis para uso emergencial, enquanto apenas a vacina da Pfizer tinha o registro definitivo da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
- Apesar do registro definitivo, a disponibilização da vacina da Pfizer no território brasileiro ainda segue em negociação.
- Recentemente a ANVISA concedeu o registro definitivo para a vacina da Fiocruz/Astrazeneca e, no mesmo dia, o Ministério da Saúde anunciou a compra de 10 milhões de doses da vacina Sputnik V.
- A vacina Sputnik V ainda não possui autorização para uso emergencial e nem o registro definitivo concedido pela ANVISA, mas a expectativa é que a indústria entre com o pedido para uso emergencial e temporário em breve.
- Adicionalmente, foram sancionadas leis com o propósito de acelerar o processo de vacinação contra a Covid-19 no Brasil.
- Essas ações são importantes porque o processo de vacinação no Brasil está lento e nesse ritmo a Fiocruz prevê tempo necessário de dois anos e meio para imunizar toda a população maior de 18 anos.
- A vacinação da população em um ritmo lento não é capaz de controlar a pandemia e é desafiada pelo surgimento de novas variantes do SARS-CoV-2.
Dados disponíveis de estudos sobre vacinas disponíveis no Brasil e as variantes do SARS-CoV-2
A eficácia das vacinas ainda está sendo investigada de perto por diferentes estudos.
Resultados preliminares indicam que a vacina do Butantan é eficaz contra as novas variantes do coronavírus em circulação no Brasil.
Já a vacina da Fiocruz/AstraZeneca foi apontada com 75% de eficácia contra a variante B.1.1.7, mas com eficácia inferior contra a variante B.1351. No entanto, mais estudos estão em andamento e as variantes seguem sendo monitoradas.
Como podemos prevenir novas variantes do SARS-CoV-2?
Enquanto estudos sobre as variantes estão sendo realizados, medidas que visam diminuir a disseminação do vírus, com o propósito de prevenir mutações que possam alterar a eficácia das vacinas, são altamente recomendadas.
As medidas são: lavagem frequente das mãos, uso de máscara, distanciamento físico, evitar lugares lotados e ambientes fechados.
“Estaremos todos seguros apenas quando todos estiverem seguros.”