Os testes de anticorpos IgG/IgM contra Covid-19 foram os primeiros testes utilizados no início da pandemia, sendo depois suplantados pelos testes de Antígeno, mais adequados para identificar casos agudos e promover isolamento rápido. Porém, com a vacinação e a permanência da pandemia, seria hora de retornarmos aos testes de anticorpos nas farmácias? Confira neste artigo respostas para essa pergunta.
Segundo números da Associação Brasileira das Redes de Farmácias (Abrafarma), mais de 7 milhões de testes já foram feitos nas grandes redes. Considerando todo varejo farmacêutico, estima-se que o total de testes realizados em farmácias ultrapasse os 10 milhões, incluindo antígeno e testes de anticorpos.
Esse é realmente um número expressivo. Mas se cada pessoa tiver feito um teste em farmácia, estamos falando de 10 milhões de pessoas, ou menos de 5% da população.
Em outras palavras, podemos afirmar que mais de 200 milhões de brasileiros nunca realizaram um teste rápido para Covid-19 em uma farmácia.
Quantos brasileiros já tiveram Covid-19?
Segundo dados do Ministério da Saúde, em 28 de maio de 2021, 14,5 milhões de brasileiros já tiveram Covid-19 confirmado e se recuperaram. No entanto, segundo pesquisadores, por causa das falhas na notificação, o número real de casos acumulados deve ser pelo menos o dobro, podendo chegar a 30 milhões de pessoas. Portanto, perto de 15% dos brasileiros já tiveram infecção natural.
Muitas pessoas apresentam quadros leves e não buscam assistência, por isso ficam fora do radar das estatísticas. Além disso, o acesso aos testes rápidos e exames diagnósticos ainda é um grande problema, seja por carência de pontos públicos de testagem ou pelo custo elevado no setor privado, proibitivo para grande maioria da população.
Quantos brasileiros já receberam a vacina Covid-19?
Em dados de maio/2021, mais de 43 milhões de brasileiros já receberam pelo menos uma dose da vacina e metade, 21,5 milhões, já receberam o esquema completo. Portanto, 20% da população já foi vacinada. Apesar da vacinação lenta, esse número continuará crescendo. A expectativa é ultrapassarmos 100 milhões de vacinados no segundo semestre.
A testagem para antígeno vai continuar alta?
Com a vacinação em massa e a grande quantidade de pessoas que já teve Covid-19, a tendência é que os casos moderados a graves da doença reduzam significativamente. São esses casos que geralmente requerem a realização de testes rápidos de Antígeno ou RT-PCR, pois representam maior risco de óbito. Casos assintomáticos ou leves, para muitas pessoas, passam desapercebidos e não levam à procura pelo teste do swab.
Portanto, a tendência para os próximos meses é de lenta redução na realização dos testes de antígeno nas farmácias, salvo se houver alguma mudança radical de cenário.
Cabe a ressalva de que em todo episódio de aumento rápido no número de novos casos, haverá aumento na demanda por testes rápidos de Antígeno, pois aumenta o número de casos com sintomas moderados a graves. No curto prazo, ainda, ações governamentais podem estimular a testagem de antígeno em massa. Quando a pandemia mostra seu pico, a estratégia é testar e isolar. No médio prazo, porém, a tendência desse teste é de queda.
Os testes de anticorpos voltarão ao primeiro lugar?
No médio prazo, provavelmente sim, pela soma dos motivos abaixo:
- Grande número de pessoas que já tiveram Covid-19, muitas há mais de 1 ano. Haverá interesse crescente em saber se houve soroconversão e se estão “protegidos”.
- Grande número de pessoas já vacinadas. Haverá interesse crescente em saber se o imunizante foi eficaz, se há presença de anticorpos, especialmente os anti-proteína S.
- Do ponto de vista epidemiológico, com a pandemia presente há mais de um ano, é importante estudar a imunidade adquirida populacional, o que também poderá ser um indicador mais confiável do número real de casos no futuro.
Quais são os testes de anticorpos que tendem a crescer?
Existem pelo menos dois tipos de testes de anticorpos que tendem a crescer. Ambos podem ser feitos na farmácia:
Anticorpos IgG/IgM não específicos
São a primeira geração de testes rápidos para detecção de anticorpos IgG e IgM contra SARS-CoV-2. São aqui chamados de “não específicos” pois não detectam anticorpos específicos contra proteína Spike, sendo direcionados, geralmente, para anticorpos contra outras proteínas do vírus, como a proteína de nucleocapsídeo (proteína N).
Esses testes de anticorpos continuam sendo importantes para avaliar a imunidade pós-infecção natural e sinalizam se o paciente produziu anticorpos em resposta à infecção. Pessoas que tiveram a doença há vários meses podem ter dúvida se ainda possuem anticorpos. Um resultado positivo é um bom sinal e mostra que a pessoa possui anticorpos contra a doença.
No entanto, esses testes não devem ser utilizados para avaliação da resposta pós-vacinal, especialmente para quem recebeu as vacinas de vetor viral, como a Astra Zeneca/Fio Cruz, ou de RNA-m, como a Pfizer/Biontech.
Uma grande vantagem desses testes será o custo. Com preços mais baixos, poderá se tornar acessível a uma grande parcela da população, que nunca teve chance de se testar antes.
Para farmácias voltadas ao público mais “popular”, pode ser uma grande oportunidade de melhor servir a essa população. Milhões de brasileiros que nunca se testaram podem encontrar na farmácia um opção acessível com esse testes de anticorpos.
Anticorpos Anti-Spike (Anti-proteína S)
Testes de anticorpos anti-spike são específicos para detecção de anticorpos que se ligam a proteína Spike do vírus, em especial uma região dessa proteína chamada de RBD (receptor binding-domain). A região RBD da proteína spike é responsável pela ligação e entrada do vírus na célula humana, possibilitando a replicação viral. Portanto, anticorpos capazes de bloquear essa ligação são fundamentais para neutralizar a infecção.
Esse tipo de teste vem ganhando destaque, pois permite avaliar tanto a soroconversão contra infecção natural (produção de anticorpos anti-S em quem teve a doença), como pós-vacinal (produção de anticorpos anti-S pela vacinação). As principais marcas desses testes no Brasil incluem a Chembio, ECO Diagnóstica, MedLevensohn e Vyttra.
Vacinas como a Astra Zeneca, Pfizer e Sputnik estimulam a produção de anticorpos anti-S, por isso os testes de anticorpos “não específicos” não são capazes de detectar essa soroconversão. Já a vacina Coronavac/Butantan, por ser uma vacina contendo vírus inteiro inativado, pode desencadear tanto a produção de anticorpos anti-S, como também de anticorpos contra outras proteínas do vírus, como a proteína N.
Existem também no mercado testes combinados, capazes de detectar de forma simultânea tanto anticorpos anti-S como anti-N, podendo ser usados para avaliar a soroconversão pós-infecção natural e a soroconversão pós-vacina, o que pode ser uma vantagem em pessoas que já tiveram a doença ou que receberam a Coronavac. A principal marca desse teste no Brasil é a ECO Diagnóstica.
Os testes anti-Spike, por serem novos, suscitam muitas dúvidas e dividem a opinião dos especialistas. A Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), se manifestou favorável ao exame, reforçando a importância dessa avaliação, tanto para as pessoas, individualmente, como para a sociedade.
Quais são as oportunidades para as farmácias?
Como observado, mais de 200 milhões de brasileiros nunca fizeram um teste rápido em farmácia. Portanto, há imensa oportunidade da farmácia mostrar seu papel e expandir a oferta desse serviço de saúde.
Se você é farmacêutico ou proprietário de farmácia, não oferece nenhuma prestação de serviço, e acredita que o momento passou, não se engane. A Covid-19 vai longe e ainda há muito espaço para sua farmácia participar. Ainda é tempo de implantar um serviço de qualidade para testes Covid-19.
Além disso, os testes Covid-19 são a entrada para uma grande categoria de serviços que irá se estabelecer: são mais de 20 exames diferentes, usando tecnologia point-of-care, que podem ser realizados em farmácias. É uma tendência que já se tornou realidade e veio para ficar.