A análise da prescrição médica pelo farmacêutico é uma atribuição indelegável e uma etapa essencial da dispensação de um medicamento, visando a segurança do paciente e o sucesso do tratamento.
Segundo a Política Nacional de Medicamentos, prescrição é “ato de definir o medicamento a ser consumido pelo paciente, com a respectiva dosagem e duração do tratamento.”
Embora a prescrição de medicamentos atenda a diferentes legislações, de acordo com as particularidades de cada área da saúde e formação técnica do profissional, o processo tem etapas semelhantes:
- Identificação das necessidades de saúde do paciente,
- Definição do objetivo terapêutico,
- Orientação ao paciente,
- Prescrição e avaliação dos resultados.
O farmacêutico ocupa uma posição estratégica entre a consulta e o início ou continuação de um tratamento medicamentoso: a dispensação.
Ainda que seja vedado ao farmacêutico modificar a prescrição de medicamentos do paciente, emitida por outro prescritor, o profissional, durante a dispensação, deve avaliar se a prescrição respeita os parâmetros básicos de indicação, posologia e contraindicações.
Em ambientes hospitalares, a avaliação farmacêutica da prescrição vem sendo utilizada como ferramenta estratégica para qualificar o sucesso terapêutico e garantir a farmacoterapia com segurança e qualidade. Isso está bem documentado na literatura.
No entanto, os farmacêuticos que trabalham em farmácias comunitárias também estão bem posicionados para apoiar um modelo de saúde focado na identificação de erros de prescrição e na atenção farmacêutica de qualidade.
Os profissionais garantem maneiras de evitar problemas relacionados aos medicamentos e informações sobre o seu uso correto com o intuito de aumentar as chances do êxito terapêutico.
Não é nova a ideia de que o farmacêutico comunitário, pela formação e acessibilidade, é um profissional chave na análise da prescrição médica e existem diferentes estudos avaliando o impacto dessa atividade na identificação de erros de prescrição e posterior intervenção.
Em 1992, por exemplo, foi realizado um estudo em uma farmácia da França que demonstrou que 28,3% dos problemas de prescrição identificados durante o estudo poderiam ter causado danos ao paciente se o farmacêutico não tivesse intervindo para corrigir o problema.
Esse dado foi coletado em apenas uma farmácia e há mais de 20 anos, revelando que a temática realmente não é recente e que a avaliação farmacêutica da prescrição tem o seu valor e efeito na segurança do uso de medicamentos e, consequentemente, na saúde do paciente.
No Brasil, a sistematização da atenção à saúde e a maneira como a farmácia está inserida nesse contexto ainda é diferente de outros países.
Além disso, os estudos sobre avaliação farmacêutica da prescrição são direcionados para ambientes hospitalares e os que foram desenvolvidos em farmácia comunitária abordam principalmente a análise da conformidade das prescrições em relação aos aspectos legais.
No entanto, pelo contexto em que a farmácia está inserida, é possível extrapolar os achados na literatura e considerar a farmácia brasileira como um local estratégico para que os farmacêuticos detectem possíveis falhas na prescrição e façam intervenções para melhorar a segurança e efetividade do tratamento.
Neste artigo, você encontrará alguns pontos dos quais o farmacêutico deve estar atento e algumas dicas para auxiliar no processo da avaliação farmacêutica da prescrição.
O que é a análise da prescrição médica pelo farmacêutico?
A análise da prescrição médica pelo farmacêutico compreende a verificação de aspectos legais, como, por exemplo, o que está determinado na Portaria SVS/MS 344/98, em conjunto com a interpretação e análise clínica.
Segundo exposto no artigo 23 da Resolução Nº357 do Conselho Federal de Farmácia (CFF), o farmacêutico deve fazer a interpretação do receituário nos seguintes aspectos:
- Aspectos terapêuticos (farmacêuticos e farmacológicos);
- Adequação ao indivíduo;
- Contraindicações e interações;
- Aspectos legais, sociais e econômicos;
- Havendo necessidade, o farmacêutico deve entrar em contato com o profissional prescritor para esclarecer eventuais problemas que tenha detectado.
Ainda de acordo com a mesma Resolução, o farmacêutico deve exigir confirmação expressa ao profissional que prescreveu o medicamento quando a dosagem ou posologia do medicamento ultrapassar os limites farmacológicos.
A mesma conduta deve ser tomada quando a prescrição apresentar incompatibilidade ou interação potencialmente perigosa com os demais medicamentos prescritos.
Na ausência ou negativa da confirmação, o farmacêutico não pode aviar e/ou dispensar os medicamentos prescritos ao paciente, expostos os seus motivos por escrito, com nome legível, nº do CRF e assinatura em duas vias, sendo uma via entregue ao paciente e outra arquivada no estabelecimento farmacêutico com assinatura do paciente.
A análise da prescrição médica é fundamental para prevenir riscos substanciais para a qualidade de vida dos pacientes que podem gerar outros gastos em saúde.
Adicionalmente, esse é o momento de garantir que a pessoa saiba como utilizar o medicamento com segurança e da maneira correta.
Dispensação de medicamentos
Após a análise da prescrição médica, durante a dispensação do medicamento, o farmacêutico deve explicar de maneira clara e detalhada ao paciente o benefício do tratamento, adotando os seguintes procedimentos:
- Fornecer toda a informação necessária para o uso correto, seguro e eficaz dos medicamentos de acordo com as necessidades individuais do usuário.
- As orientações podem ser reforçadas por escrito ou com material de apoio adequado.
- As contraindicações, interações e possíveis efeitos secundários do medicamento devem ser explicados no momento da dispensação.
O ponto focal é garantir que o paciente não tenha dúvidas sobre o modo de ação dos medicamentos, a forma de usar (como, quando e quanto), a duração do tratamento, possíveis efeitos adversos e precauções especiais.
Dicas para prática para análise da prescrição médica na farmácia
A avaliação farmacêutica da prescrição deve ser individualizada com o propósito de resolver ou evitar problemas relacionados aos medicamentos, levando em consideração o perfil do paciente para o qual se destina a prescrição.
Por isso, essa verificação requer, no mínimo, um diálogo com o comprador e ótimo conhecimento clínico e farmacológico, sendo esses últimos alcançados com estudos contínuos e experiência de trabalho.
Nesta etapa, é importante investigar para qual problema de saúde o medicamento foi prescrito, se o paciente já faz o uso da medicação e, se possível, como é feita a administração do medicamento, especialmente quando a atenção com o estado alimentar é essencial.
Neste momento, também é necessário verificar se trata-se de uma situação especial: gestante, idoso ou criança. Lembre-se que essa população demanda uma assistência diferente.
Para paciente que vai começar o tratamento e não tem experiência anterior com o medicamento prescrito, o foco deve ser certificar que ele saia da farmácia sabendo o objetivo do tratamento, a posologia e o modo de uso.
Caso o medicamento necessite de armazenamento em condições especiais, a informação também deve ser compartilhada.
Para paciente que está em tratamento e foi até a farmácia comprar medicamento para dar continuidade na terapia medicamentosa, o foco deve ser investigar se o tratamento está sendo efetivo, ou seja, se os objetivos terapêuticos estão sendo alcançados.
Para isso, lembre-se que você pode oferecer diferentes serviços farmacêuticos.
Prescrição Farmacêutica
Com a publicação da Resolução Nº 586/2013 do CFF, a prescrição farmacêutica passou a ser regulamentada e faz parte dos serviços clínicos disponíveis em farmácias e outros estabelecimentos de saúde.
O farmacêutico pode fazer o manejo clínico e prescrição farmacêutica, que deve ser redigida em português, por extenso, de modo legível, observados a nomenclatura e o sistema de pesos e medidas oficiais, sem emendas ou rasuras, devendo conter os seguintes componentes mínimos:
- Identificação do estabelecimento farmacêutico, consultório ou do serviço de saúde ao qual o farmacêutico está vinculado;
- Nome completo e contato do paciente;
- Descrição da terapia farmacológica, quando houver, incluindo as seguintes informações:
- a) nome do medicamento ou formulação, concentração/dinamização, forma farmacêutica e via de administração;
- b) dose, frequência de administração do medicamento e duração do tratamento;
- c) instruções adicionais, quando necessário.
- Descrição da terapia não farmacológica ou de outra intervenção relativa ao cuidado do paciente, quando houver;
- Nome completo do farmacêutico, assinatura e número de registro no Conselho Regional de Farmácia;
- Local e data da prescrição.
Nas farmácias, o farmacêutico pode realizar a prescrição de medicamentos e outros produtos com finalidade terapêutica, cuja dispensação não exija prescrição médica.
> Confira aqui a Lista de Medicamentos Isentos de Prescrição (LMIP) autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Prescrição com a Clinicarx
A Clinicarx é uma plataforma de serviços de atenção farmacêutica, para que farmacêuticos e outros profissionais da saúde possam implantar e oferecer esses serviços.
Com a Clinicarx, o farmacêutico só precisa se preocupar com o paciente que está na sua frente. A plataforma está de acordo com os aspectos legais e permite que o profissional faça uma prescrição farmacêutica focando apenas no que é mais importante: o paciente.